domingo, 22 de janeiro de 2023
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Formação de policiais para o enfrentamento da violência de gênero


Baixa aqui o manual em PDF


 Desde 2015 o FBSP incluiu de forma permanente em sua agenda o tema do enfrentamento da violência contra mulheres e meninas. Além dos dados levantados pelo FBSP desde o primeiro Anuário Brasileiro de Segurança Pública referentes à violência contra as mulheres, realizamos em 2016 a pesquisa A polícia precisa falar sobre estupro, duas edições da pesquisa Visível e Invísel: a vitimização de mulheres no Brasil (2017 e 2019), e também desde 2016 são realizados oficinas sobre essa temática para profissionais de segurança pública de todo o Brasil coordenadas por Fiona Macaulay e Juliana Martins, autoras deste Manual.

 
Desde que começamos a divulgar os números de violência contra as mulheres eles vêm crescendo a cada ano. Isso se deve a inúmeros fatores: melhora nos registros, melhora nos canais de denúncia, maior compreensão dos profissionais e sociedade sobre a importância de nos reposicionarmos, mas também porque, apesar dos avanços, a violência contra mulheres e meninas continua aumentando. E é inaceitável saber que a cada dois minutos no Brasil uma mulher sofre uma agressão em decorrência de violência doméstica; que mulheres ainda são assassinadas porque queimaram o feijão ou porque terminaram um relacionamento. É com essa indignação que o FBSP tem se mantido firme no propósito de conferir transparência e visibilidade aos números relacionados à violência contra meninas e mulheres para que possamos ter a real dimensão do problema que temos que enfrentar. Portanto, buscando contribuir para o aprimoramento das políticas públicas na área e melhoria da atuação dos profissionais que compõem a rede de proteção a mulheres e meninas vítimas de violência, esperamos que este Manual possa contribuir para o aperfeiçoamento de profissionais da segurança pública através de uma metodologia inovadora e fornecendo instrumentos para que policiais possam exercitar novas maneiras de falar sobre esse tema. 

Fonte:https://forumseguranca.org.br/formacao-de-policiais-para-o-enfrentamento-da-violencia-de-genero/
quarta-feira, 9 de junho de 2021
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Atlas da Violência 2020


Baixa aqui o Atlas da Violência 2020


 Neste Atlas da Violência 2020, produzido pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), construímos e analisamos inúmeros indicadores para melhor compreender o processo de acentuada violência no país.

Os números de óbitos são contabilizados a partir da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) como eventos que envolvem agressões e óbitos provocados por intervenção legal (códigos X85-Y09 e Y35-Y36). A Classificação Internacional de Doenças é publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e padroniza a codificação de doenças e mortalidade por causas externas em todo o mundo desde 1893.

Os dados divulgados referem-se ao período de 2008 a 2018, considerando as informações mais recentes tabuladas pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e divulgadas no site do Departamento de Informática do SUS – DATASUS.

EQUIPE TÉCNICA

Daniel Cerqueira
Técnico de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (Diest) do Ipea e diretor presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).

Samira Bueno
Diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). 

Paloma Palmieri Alves
Consultora da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

Renato Sergio de Lima
Diretor presidente do FBSP e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Enid R. A. da Silva
Técnica de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea.

Helder Ferreira
Técnico de planejamento e pesquisa na Diest/Ipea.

Amanda Pimentel
Pesquisadora do FBSP.

Betina Barros
Pesquisadora do FBSP.

David Marques
Pesquisador do FBSP.

Dennis Pacheco
Pesquisador do FBSP.

Gabriel de Oliveira Accioly Lins
Pesquisador do Subprograma de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD) na Diest/Ipea.

Igor dos Reis Lino
Pesquisador do PNPD na Diest/Ipea.

Isabela Sobral
Pesquisadora do FBSP.

Isabel Figueiredo
Pesquisadora do FBSP.

Juliana Martins
Pesquisadora do FBSP.

Karolina Chacon Armstrong
Estagiária na Diest/Ipea.

Taís da Silva Figueiredo
Estagiária na Diest/Ipea.

Tipo de publicação:  Infográfico de divulgação, Relatório de pesquisa

Ano da publicação: 2020

Formato: PDF

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ESCOLA X VIOLÊNCIA

Porém, o que vemos são ações coercitivas, representadas pelo poder e autoritarismo dos professores, coordenação e direção, numa escala hierárquica, estando os alunos no meio dos conflitos profissionais que acabam por refletir dentro da sala de aula.
Além disso, a violência estampada nas ruas das cidades, a violência doméstica, os latrocínios, os contrabandos, os crimes de colarinho branco têm levado jovens a perder a credibilidade quanto a uma sociedade justa e igualitária, capaz de promover o desenvolvimento social em iguais condições para todos, tornando-os violentos, conforme esses modelos sociais.
Nas escolas, as relações do dia a dia deveriam traduzir respeito ao próximo, através de atitudes que levassem à amizade, harmonia e integração das pessoas, visando atingir os objetivos propostos no projeto político pedagógico da instituição.
Muito se diz sobre o combate à violência, porém, levando ao pé da letra, combater significa guerrear, bombardear, batalhar, o que não traz um conceito correto para se revogar a mesma. As próprias instituições públicas se utilizam desse conceito errôneo, princípio que deve ser o motivador para a falta de engajamento dessas ações.

Aula motivadora que favorece a reflexão e o aprendizado
Levar esse tema para a sala de aula desde as séries iniciais é uma forma de trabalhar com um tema controverso e presente em nossas vidas, oportunizando momentos de reflexão que auxiliarão na transformação social.
Com recortes de jornais e revistas, pesquisas, filmes, músicas, desenhos animados, notícias televisivas, dentre outros, os professores podem levantar discussões acerca do tema numa possível forma de criar um ambiente de respeito ao próximo, considerando que todos os envolvidos no processo educativo devem participar e se engajar nessa ação, para que a mesma não se torne contraditória. E muito além das discussões e momentos de reflexão, os professores devem propor soluções e análises críticas acerca dos problemas a fim de que os alunos se percebam capacitados para agir como cidadãos.
Afinal, a credibilidade e a confiança são as melhores formas de mostrar para crianças e jovens que é possível vencer os desafios e problemas que a vida apresenta.
Por Jussara de Barros
Graduada em Pedagogia
terça-feira, 9 de maio de 2017
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Guardas Municipais de Maragojipe (BA) recebem curso de Aperfeiçoamento em Comando de GCM

Um parceria entre a Federação Baiana das Associações de Guardas Municipais - FEBAGUAM, Centro de Estudos, Pesquisas e Projetos - CEPEPRO e Sindicato dos Servidores Públicos de Maragojipe - SIFUPREMA, tornou possível a realização do I Curso de Aperfeiçoamento em Comando de Guardas Municipais na cidade de Maragojipe, na região do Recôncavo Baiano, atendendo as adequações da Lei 13.022/2014 e a Lei Municipal 19/2015 que tem como exigências o Curso de Comando de Guardas para o pleito ao Cargo de Comandante da Guarda Civil Municipal de Maragojipe.

O curso teve início no dia 25/11/2016 e teve o término no dia 23/12/2016 com carga horária de 40 hs. Foram abordados temas como o Sistema Policial Brasileiro, Legislação Aplicada, Controle Interno e Externo (Ouvidoria e Corregedoria de Guarda Municipal), Inovação e Gestão Municipal em Segurança Pública, Gestão de Programas e Projetos, Elaboração de Projetos, Noções de Gestão Pública Municipal, Convênios e Consórcios, Gestão da Tecnologia e Informação, e Técnicas Operacionais, através dos Instrutores GCM Nelson Querino, Jardas Pires e a GCM Creuza dos Santos.
Graças à parceria da FEBAGUAM, Cepepro e o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Maragojipe o curso foi totalmente sem custos para os guardas municipais participantes, assim como não proporcional custos aos cofres públicos municipais, haja visto que foi uma parceria da FEBAGUA, CEPEPRO e SIFUPREMA para que pudessem adequar os guardas municipais de maragojipe a lei municipal que exigia o curso especifico para assumir o comando da GCM.



Fonte: FEBAGUAM
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
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O contexto do Sistema de Segurança Pública e a Criminalidade no Município de Maragogipe-BA

Por Zevaldo Sousa



Debater segurança pública é algo extremamente complexo, pois há defensores de uma política de segurança pública voltada para a ostensividade, com aparelhamento da polícia militar, chegando ao extremo de ter o próprio exército nas ruas e até pena de morte; assim como existem defensores de uma política de segurança pública voltada para a prevenção, pela valorização do policial e do guarda municipal e, principalmente, com respeito ao cidadão e promoção de políticas sociais. Ainda chego ao extremo afirmando que também passa pela família - maior responsável pela permissividade excessiva que alguns jovens estão tomando.

Entrei em contato com alguns especialistas em segurança pública, policiais militares e civis de outras cidades e guardas municipais para falar sobre este delicado tema que nesta tela reporto.

Poucas pessoas sabem, mas a inauguração do novo DISEP (Distrito Integrado de Segurança Pública) em Maragogipe, no bairro das Cabaceiras, especificamente, na Ladeira do Corte poderá acarretar no fechamento da Delegacia de Maragogipe, localizado no Bairro das Palmeiras, e do Batalhão da Polícía Militar, localizado no bairro do Cai-já. Mudanças? Poucas ou muitas a depender da opinião.

Para alguns, a mudança será pouca e, na verdade, a comunidade ganhará mais um benefício. Novidades sempre são bem vindas. Mas, quais serão os benefícios do novo DISEP? Deixarei a resposta desta pergunta para o final.

Para outros, a coisa muda de figura. Em primeiro lugar, como tudo indica que não haverá aumento do efetivo de policiais em Maragogipe nada mudará. Aliás, alguns policiais no município se queixam que a Prefeitura de Maragogipe deveria cumprir algumas obrigações e não cumpre.

Uma coisa é certa, a onda de violência está crescendo em todo o país e em Maragogipe não é diferente. Todavia, pergunto-me o que estamos fazendo para mudar esta história?

Antes de iniciamos este debate precisamos entender alguns pontos. Qual é o papel da polícia militar, polícia civil e guarda municipal? 

A Polícia Civil é dirigida por Delegados de Polícia que coordenam as atividades dos Agentes. Cada estado tem uma Polícia Civil diferente, e elas atuam investigando e elucidando crimes que ocorrem dentro dos limites territoriais do respectivo estado, mas pode acontecer de cumprirem missões fora. Também é responsável por fiscalizar diversas atividades, como autorizar a realização de grandes eventos e funcionamento de determinadas atividades comerciais.

A Polícia Militar de modo preventivo e ostensivo, e atuando uniformizada, tem o dever de patrulhar as ruas das cidades, para inibir e evitar a ação de criminosos, e quando não puder evitar, tentar prender o bandido após ele ter cometido o crime. Também é a polícia que fiscaliza o trânsito, podendo aplicar multas.

Já a Guarda Municipal colabora na segurança pública utilizando-se do poder de polícia e delegados do município através de leis complementares e pela Lei 13.022 (Estatuto Geral das Guardas Municipais), lei essa, inovadora, que veio a suprir um espaço aberto na segurança pública, que é a prevenção à violência. Algumas administrações utilizam as denominações de Guarda Civil Municipal para designar órgão de municípios do interior e Guarda Civil Metropolitana para as grandes capitais na qual podem existir consórcios entre os municípios.

Quanto a integração das mesmas por meio de um complexo, será está a solução para a resolver a questão da segurança pública no nosso município? 

Bem, na verdade não temos a certeza absoluta com relação ao assunto. Os novos DISEP's estão sendo instaladas em todo o Estado da Bahia em um novo modelo que está sendo implantado pelo atual governador da Bahia - Rui Costas, mas ainda não temos dados suficientes para responder a questão. Em entrevista, o governador respondeu "Temos a convicção que, para melhorar a segurança publica, as policias têm que trabalhar de forma articulada, integrada e em parceira, daí colocarmos juntas as três instituições", ou seja, mais um novo teste. Vamos aguardar, pois acreditamos que este modelo só funcionará com mudanças nas atitudes dos policias civis e militares.

Outro ponto que precisa ser pensado é se a cadeia publica (delegacia) vai fechar mesmo? E caso não feche, quem ficará tomando conta dos presos?


Para quem desconhece, até o início da década de 90, a Cadeia Pública funcionava na Casa de Câmara e Cadeia - um serviço que durou aproximados 265 anos de história. Desde 1725, o espaço térreo da Câmara funcionou como cadeia pública. Os serviços da Delegacia de Polícia e de Cadeia Pública mudaram de local a pedido da população e de políticos da época que exigiam um espaço mais qualificado para a época e até hoje serviu, apesar de alguns fugas que ocorreram nos últimos anos, assustando moradores do município e região circunvizinha,

Segundo policiais civis e militares, com a implantação no DISEP em Maragogipe a delegacia irá fechar e junto com ela, a cadeia pública, assim como o Batalhão da Polícia Militar que hoje se encontra num local pertencente a Marinha do Brasil.

Todavia, é importante salientar alguns pontos positivos que o novo DISEP poderá oferecer a população. Segundo informações do Governo do Estado, um dos destaques do DISEP de Serrinha é a instalação da sala de necropsia, espaço para análises de drogas, biológicas e perícias de vivos. No total, três médicos, seis peritos criminais e cinco técnicos atuam na unidade. O Batalhão também oferece mais conforto para os policiais, com novos alojamentos, além de uma sala de capacitação, que também servirá de ponto de encontro da PM com a sociedade, para a discussão dos problemas da comunidade. No DISEP de Maraú, existem celas reforçadas que dão mais segurança na custódia de presos, inibindo a possibilidade de fuga.

Na opinião deste blogueiro, apesar das benesses, muitas por sinal que melhoriam e muito a atuação das duas polícias em Maragogipe, não vejo necessidade de fechar as unidades atuais a não ser que os prédios sejam aproveitados para outros serviços de segurança pública, como exemplo, a sede da Guarda Civil Municipal nas Palmeiras e no Caijá, um alojamento para a Guarda Ambiental integrada com o ICMBIO.

Gostaria muito que o DISEP viesse acompanhada com o aumento do efetivo em Maragogipe e de todos os novos serviços que o Governo do Estado está oferecendo em outras regiões da Bahia, pois o nosso município é muito grande o que acaba por interferir na atuação dos bravos guerreiros. Tenho certeza que o aumento do efetivo minimizaria, pois manteríamos os três prédios em funcionamento e ampliaríamos os serviços de segurança pública na comunidade.
A descentralização da Delegacia de Polícia é outro ponto polêmico nesta questão. Promover segurança pública é complexo por demais. Fechar estabelecimentos de segurança pública centralizados poderá e muito acarretar com o aumento da violência no município. A centralização permite rápido acesso, enquanto a descentralização pode permitir a elevação da violência em outros bairros do município. Essa questão de localização geográfica do DISEP é muito importante e precisaria ser debatida, infelizmente, a falta de diálogo do poder público municipal com a população impede a construção de um município mais organizado.

Foto do Batalhão da Polícia Militar em Maragogipe
Mas, como o município de Maragogipe pode investir em Segurança Pública?

Eis a questão que finalmente precisa ser debatida ao extremo. Certamente, não temos a intenção de esgotar o tema neste artigo, mas tentar trazer luz a um debate que deveria contribuir e muito para o município, todavia, o que vemos é um debate disseminado de forma negativa em que muitos afirmam que o município não tem responsabilidade nenhuma pelo problema da segurança pública e que o único responsável é o Governo do Estado, mas nós temos a certeza que o munícipio tem uma responsabilidade enorme. Qualquer administração pública municipal precisa debater com a comunidade e desenvolver ações de prevenção à violência, por meio da instalação dos equipamentos públicos, como iluminação e câmeras; A criação das guardas municipais para a proteção de bens, serviços e instalações também é outro ponto importante.

Uma coisa é certa: Infelizmente, em Maragogipe, nenhum órgão público tem a coragem de discutir Segurança Pública com a população, nem a prefeitura, nem o Ministério Público, nem a Câmara de Vereadores, pelo contrário. Atualmente, em Maragogipe, a população está discutindo quem matou quem, em que horas e lugar e qual facção pertence os envolvidos - pasmem, não pergunta nem se era inocente, acusando, julgando e determinando que a morte foi a sentença definitiva e ponto final como num tribunal inquisitorial - mas, temos a certeza que isso não leva a lugar nenhum, pelo contrário, continuamos como dantes no Quartel de Abrantes, ou seja, continuamos inoperantes e inconformados com tal situação que se encontra o município de Maragogipe.

Para Nelson Querino, a Seguranca Pública Municipal deve ser politica pública e deve ser entendida nos mesmos moldes que as outras áreas da gestão pública, como a saáde, educação, assistência social, dentre outras. Estamos sofrendo com um mal que é a violencia e para combatê-la, precisamos estudar os tipos de violências existentes na sociedade, seus atores, os fatores internos e externos, dentre outros e com base nos indicadores construir um Plano Municipal de Seguranca Pública, cujas ações podem ser executadas por uma Secretaria de Segurança Pública. Com a criação dessas instâncias, o município pode planejar, implementar, monitorar e avaliar projetos que tenham o objetivo de prevenir o crime e reduzir o sentimento de insegurança dos seus cidadãos.

Além disso, há necessidade de se criar o Gabinete de Gestão Integrada que é um espaço composto pelos órgãos de polícia, poder judiciário e executivo que com base nos indicadores e no Plano Municipal de Segurança Pública assumiram seus papéis podendo atuar de forma integrada. Outro ponto importante é a criação do Fundo Municipal de Segurança e do Conselho Municipal de Segurança Públicacomo um espaço da participação da sociedade no controle social.

Vale lembrar que a Prefeitura Municipal de Maragogipe deu o passo inicial promovendo encontro para formação do Conselho de Segurança Pública em 2014, mas até hoje a comunidade aguarda a Audiência Pública que seria realizada para a implantação do referido Conselho.
Nesta eleição de 2016, os moradores da zona rural questionaram e muito sobre a falta de segurança pública nos distritos do município e como resolver este problema? Segundo informações obtidas no Plano de Governo da candidata eleita Vera da Saúde (2017-2020) e atual gestão: 
  • Criar o Conselho de Segurança Pública no município e integrá-lo às ações do estado, promovendo a participação das comunidades e da população;
  • Implantar Parceria com as Policias Civil e Militar, que permitirá uma vigilância constante nas áreas de sede e de zona rural, com veículos adquiridos pelo Município, para possibilitar Convênio de cooperação e Rondas nas vias Maragogipe x Piedade, Guapira, Maragogipe x Batatan e via Serraria;
  • Implantação de Projetos de ampliação, qualificação e reestruturação da Guarda Municipal, visando atendimento a toda área rural do Município;
  • Elaborar Convênio com o governo do Estado para a implantação de Posto Policial nos distritos;
Para Nelson Querino,
"críticas precisam ser feitas ao Plano de Governo da prefeita eleita, pois nele existem algumas incoerências. Vale ressaltar que os municípios não tem autonomia para instituir na PM a obrigatoriedade para que seja realizada rondas nas rotas traçadas nos perímetros da zona rural, principalmente, com veículos adquiridos pelo municipio, haja vista toda VTR da Polícia Militar ou Civil são codificadas e possuem uma numeração específica. Importante salientar que a prefeita criou uma lei municipal que proibiu a Guarda Civil Municipal de atuar na Zona Rural, e atualmente a GCM não possue sequer, estrutura para atuação no perímeto urbano devido o fato de haver mais de 4 anos que a Guarda Civil não passa por nenhum tipo de qualificação e diga-se de passagem, nunca foi formada conforme a Lei 13.022."
Neste Plano, afirma Nelson Querino, o único ponto que está norteado são as politicas públicas voltadas para o público jovem. Confira outros pontos que foram colocados na parte de segurança pública do plano de governo da candidata eleita.
  • Investir em políticas públicas preventivas, com foco na juventude;
  • Priorizar medidas para afastar os jovens das drogas e da influência do tráfico, através da educação, envolvimento da família com a escola, multiplicação das oportunidades de formação profissional, disseminação da prática de esportes, de oficinas de teatro, música, artes plásticas, circo, moda etc.;
  • Instalar iluminação pública e oferta de serviços públicos, priorizando os pontos registrados de criminalidade;
  • Aumentar a luminosidade e intensificar a presença noturna da polícia nas áreas de maior criminalidade;
  • Instituir a municipalização do trânsito;
  • Implantar políticas educativas de combate à criminalidade;
  • Implantar Projeto de Integração com as Secretarias, Educação Esporte e Lazer, Saúde e Desenvolvimento Social para acolhimento de jovens em situação de risco social;
  • Elaborar convênio com o Governo do estado para a valorização da atuação das Policiais Civil e Militar no município, a efetivação de policiamento ostensivo;
Para o Guarda Civil Municipal - Luiz Américo, e atual presidente da AGMEM 
"Maragogipe é uma cidade que nunca foi planejada, seu crescimento em direção ao manguezal, ocorreu como única fonte de moradia para uma parcela da população, e isso também teve como propulsor a concentração de serviços. Ocorre que atualmente com os indicadores de crime e violência em alta, e com a população pedindo solução, esse assunto vem a tona, haja vista, que o crime e a violência é um fenômeno com múltiplos fatores e um deles, é a questão espacial, portanto, precisa ser debatida a busca por uma política pública nessa seara. O ordenamento do solo é uma das políticas que vão buscar diminui os indicadores, essa ação vai desse a organização das residências, bem como da instalaçao de indústrias, área comercial, organização do comércio informal, trânsito entre outros. Essas ações tem como finalidade ofertar a população áreas de lazer, sistema viário, saneamento básico, entre tantos outros".
O GCM Luiz Américo continua desta vez, falando sobre a importância da Guarda Civil Municipal.
"Ainda falando do assunto é importante que o município atue diretamente na prevenção, a Guarda Municipal, precisa atuar nesse sentido, pois no Brasil a segurança pública é feita através das ações de gerenciamento de crise, ou seja a atuação dos órgãos de segurança pública é realizada para responder a alguma demanda.
A  atuação da GCM é de fundamental importância, pois com a aprovação da Lei 13.022/14 abriu um leque maior de possibilidades de atuação da instituição que vai desde as escolas, garantindo não só a preservação do patrimônio,mas também traz a responsabilidade pela cultura de paz na unidade escolar e entorno, assim com uma perspectiva nova que uma atuação de proximidade e de envolvimento com toda a comunidade escolar e do entorno, bem como as ações de preservação ambiental, tanto fiscalizatoria como de sensibilização da comunidade, além da atuação no trânsito.
Ainda assim haverá a necessidade de criação do Fundo Municipial de Segurança pública que destinará verbas para  as ações de prevenção a violência."
Para GCM Nelson Querino, o debate com a população deve ser prioritário para que as pessoas atuem para a redução da criminalidade em qualquer município. Quando a população se sente parte integrante do processo, ela participa e age para que outros problemas possam vir a surgir na comunidade (Veja mais informações do GCM Nelson Querino no texto A segurança pública é dever de todos. Será difícil de entender?).

Nelson Querino também afirma que
"alguns pontos sobre segurança pública precisam ser incorporados ao debate como a Construção do Observatório de Segurança que vai atuar como órgao de avaliação das ações empregadas e na redução dos índices de violência e criminalidade, com Central de videomonitoramento, Central de teleatendimento e Espaço multidisciplinar de prevenção; O reaparelhamento da guarda civil com formação de acordo com.a matriz curricular SENASP; A constituicao da carreira única e plano de cargos e carreira e salários; Implantação real dos grupamentos da GCM; Ordenamento do solo municipal, Iluminação Pública e Manutenção das Vias e Prédios Públicos; Revitalizar terrenos baldios no município; Controle dos portos e rios municipais; Controle e regulamentação do trânsito e dos serviços alternativos de transporte (inspeção, emissão de álvara, dentre outros.); Implantação dos projetos Bairros da Paz e Mulheres da Paz; e por fim, constituir uma politica de geração de emprego e renda a familias em condições de vulberabilidade social."
Percebeu que o debate sobre segurança pública é amplo e merece especial atenção? Mas não podemos parar por aqui. Por este motivo, recomendo as leituras:


Mas, o que esperar da implantação do novo DISEP?
  • Não posso mentir. Atualmente, com o altíssimo índice de violência que existe no nosso estado, não vislumbro melhorias significativas com a implantação do novo DISEP, talvez, melhorias administrativas e até cidadãs, pois percebi em minhas leituras que o novo DISEP tem como intuito principal a aproximação com a sociedade, numa tentativa de reduzir o conceito negativo que a população tem com a polícia. Todavia, em Maragogipe, a localização não ajuda muito nesta aproximação com a sociedade, pois a instalação fica na Ladeira do Corte em um local que tem pouquíssimas casas ao redor.
Geolocalização da DISEP

Quando o famoso "Carandiru" (local onde seria construído um hospital) foi derrubado pela atual gestão, a promessa era a Construção do Distrito Integrado de Segurança Pública no mesmo local (Veja matéria reproduzida da Ascom / Prefeitura de Maragogipe em 2013). Ao longo dos anos, a prefeitura optou pela implantação da Academia de Saúde e da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) o que revitalizou a localidade das Cabaceiras dando mais dignidade a população. Essa opção, na minha opinião era a ideal, todavia, com a construção das unidades de saúde restou pouco espaço para o DISEP.

Na nossa opinião, o local ideal para a construção deste DISEP seria próximo ao Colégio Polivalente de Maragogipe, aliás, a escola tem espaço de sobra disponível para a construção de diversos prédios públicos o que teria um impacto positivo na localidade beneficiando Cabaceiras, Boiada, Porto, Comissão e Baixinha.

Sinceramente, a localização atual no contexto atual afastou o novo DISEP da comunidade. Se o sentido era aproximar a polícia do cidadão, essa a atitude de fechar as outras unidades de segurança precisa ser revista.

Volto a salientar que acreditamos que tanto o espaço da Delegacia de Polícia Civil quanto o espaço do Batalhão da Polícia Militar pode ser utilizado para outros espaços de segurança pública. Não podemos perder esta oportunidade de transformar estes locais em:
  • Sede da Guarda Municipal
  • Observatório de Segurança Pública
  • Gabinete de Gestão Integrada
  • dentre outras ideias...
Por outro lado, não podemos perder a oportunidade de mudar a realidade uma comunidade que durante muito tempo foi esquecida. Se hoje, as populações dos bairros do Porto Grande, Boiada e Cabaceiras, que de certa forma, foram esquecidos pelo poder público durante muito tempo têm a oportunidade de mudar sua vida. Com a implantação da UPA e da Academia de Saúde e agora, na Ladeira do Corte, um DISEP, temos uma oportunidade ímpar de mudar os rumos do município. Enxergar nesta nova tela que surge o debate sobre reorganização do espaço público com a possibilidade de doação de terrenos próximo a DISEP para que moradores do município possam estar construindo suas casas, e com isso, não somente aproximar pessoas como promover melhorias habitacionais e iniciar o processo de ordenamento do solo, dentre outros assuntos. O manguezal maragogipano não aguenta tanta invasão. Aqui saliento que a reorganização do trânsito local também pode favorecer e muito neste quesito de aproximação. A Ladeira do Corte tem agora a oportunidade de se tornar a entrada ou a saída desta cidade e com isso, mudar ainda mais a vida dos cidadãos daquela localidade, somente este procedimento, revitalizaria o comércio local e possibilitaria novas oportunidades de emprego para a região. É apenas uma opinião.

Elucidação dos Crimes
Outro ponto que esperamos com o DISEP é que a elucidação dos crimes seja finalmente realizada. O ar de impunidade que toma conta do nosso município e da Bahia é muito grande. Poucas pessoas acreditam no poder de resolução de crimes da polícia. Temos certeza que, mais de 90% dos crimes em Maragogipe não foram elucidados.

Os dados encontrados no site da SSP é uma afronta ao município. Todos sabem que mais de quartorze pessoas foram assassinadas no nosso município e se estas não estão sendo contabilizadas pela polícia, como acreditar que seus casos sejam elucidados?

Sem encontrar culpados, sem punir culpados, a onde de impunidade cresce exponencialmente e neste sentido, o ar de vingança só faz aumentar. A justiça pelas próprias mãos acaba sendo a única justiça neste ambiente hostil e neste sentido, o terror foi implantado no município num ritmo nunca antes imaginado pelos moradores locais.

Certamente, comentários sobre o crescimento em toda a Bahia e Brasil irão surgir, mas será que este comentário é sufuciente para resolvermos nossos problemas? Percebo que este comentário nada mais é do que uma ideia maquiavélica de governantes que anseiam o conformismo da população. Quem reproduz tal frase nada mais faz do que legitimar a atuação inoperante e corrupta que existe dentro do Governo e do seu braço direito quando se trata de segurança pública - a polícia.

Nunca foi tão fácil matar em Maragogipe e nunca foi tão fácil sair ileso de um crime praticado e a sociedade continua acreditando que nada pode ser feito para tentar reduzir o índice de criminalidade e violência que toma conta do nosso município, da Bahia e do Brasil.

Sendo assim, esperamos que o DISEP Maragogipe contemple uma polícia técnica, papilocopistas, dentre outros profissionais que facilitem o poder de investigação e elucidação dos crimes praticados no município de Maragogipe e região circunvizinha.

Ou então, o DISEP será apenas mais uma obra do Governo do Estado que não trará os benefícios que a população tanto deseja.

Percebeu a complexidade do tratar sobre este tema caríssimo. Segurança Pública: Eis a questão.


Fonte: 
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
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Serviço Social: Significado Social da Profissão

A DISCUSSÃO DO SIGNIFICADO SOCIAL
Para Marilda Iamamoto, a compreensão do significado social da profissão, parte da concepção da totalidade histórico-social. A mesma, no capítulo II de sua obra Relações Sociais e Serviço Social no Brasil, enfatiza que seu trabalho se direciona a “um esforço de captar o significado social dessa profissão na sociedade capitalista” e “um esforço de compreender a profissão historicamente situada”. 


Portanto, tendo em vista o mesmo objetivo da autora, de compreender o “significado social” da profissão, ou seja, de desvendar qual é o papel do profissional Assistente Social e a quem serve essa profissão, seguiremos seu raciocínio, para reconstruir criticamente as formulações teóricas desenvolvidas pela mesma. De acordo com a mesma, a nossa profissão participa da reprodução das relações sociais. Estas por seu turno, não se restringem à reprodução material mas “...atinge a totalidade da vida cotidiana, expressando-se tanto no trabalho, na família, no lazer, na escola, no poder, etc., como também na profissão”. (IAMAMOTO, 1982, p.73)

Precisamente por isso é que segundo ela, não se pode afirmar que o Serviço Social se situe “... unilateralmente como um mecanismo de apoio ao capital, podendo tornar-se em instrumento a serviço dos trabalhadores”. (IDEM, p.96)
A professora Marilda, afirma que o Serviço Social, no processo de reprodução das relações sociais, auxilia e subsidia o controle  social e contribuiu na “difusão  da ideologia da classe dominante junto a classe trabalhadora”. Ela admite ainda, a intervenção do profissional, “...na criação da reprodução da força de trabalho, através da mediação dos serviços sociais”, reconhece também que a o Serviço Social enquanto instituição, “pode ser polarizada por interesses de classes contrapostas”. (IDEM, p.94)
Todavia, a partir disso, ela formula sua concepção, valorizando e ressaltando a figura do profissional Assistente Social no processo das relações sociais.
“No desempenho de sua função intelectual, dependendo de sua opção política,pode configurar-se como mediador dos interesses do capital ou do trabalho, ambos presentes, em confronto, nas condições em que se efetiva a prática profissional. Pode tornar-se intelectual orgânico a serviço da burguesia ou das forças populares emergentes: pode orientar a sua atuação reforçando a legitimação da situação vigente ou reforçando um projeto político alternativo, apoiando e assessorando a organização dos trabalhadores, colocando-os a serviço de suas propostas e objetivos”. (ibid, p.96)
Quer dizer, ao profissional assistente social é atribuído o papel de sujeito, portanto um papel ativo, decisivo na delimitação do significado social da profissão. Consequentemente com isso e, de acordo com a opção política dele (do profissional), pode mediar (defender) interesses do capital ou do trabalho, escolha que depende dele. Assim, segundo a Professora Marilda, a função do assistente social é de intelectual. Daí lhe ser facultado a escolha entre ser “...intelectual orgânico a serviço da burguesia ou das forças populares emergentes”. (p.96)
Em síntese, o significado social da profissão é determinado num primeiro momento pelo  Serviço Social enquanto Instituição que teve sua gênese pautada na necessidade do capitalismo monopolista e num segundo momento  pela escolha que cada profissional realiza, podendo servir ao capital ou ao trabalho. É claro que toda a preocupação da Professora Marilda consiste em fundamentar porque é possível defender uma estratégia profissional e política de acordo com os interesses das classes trabalhadoras.
“Considerando o Serviço Social,  no processo de reprodução das relações sociais, não se situa unilateralmente como um mecanismo de apoio ao capital, podendo tornar-se um instrumento a serviço dos trabalhadores”. (ibid, p.96)
Em todo o capitulo II da primeira parte do livro desenvolve uma sofisticada argumentação para dar base às conclusões sinteticamente expostas acima. Sendo assim, na realização de nossa análise, iremos nos deter no exame de determinações fundantes do “significado social” de acordo com o que a autora propõe.

O SIGNIFICADO SOCIAL A PARTIR DA REPRODUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS

É importante relembrar no início deste capítulo que ao explicar o Serviço Social no processo de reprodução das relações sociais, a professora Marilda, destaca que se trata de um processo “que atinge a totalidade da vida quotidiana, expressando-se tanto no trabalho, na família, no lazer, na escola, no poder, etc., como também na profissão”.
A autora, tem o objetivo claro de nos alertar contra o risco de reduzir o conceito de reprodução das relações sociais, ao plano puramente econômico. Sendo assim, ela enfatiza os aspectos político e ideológico que se fazem presentes em tais relações.
A partir dessa concepção, a autora constrói o argumento principal de sua tese, ou seja, a possibilidade do Assistente Social “colocar-se no horizonte dos interesses das classes trabalhadoras.”
Vale ressaltar aqui, que a professora Marilda, na defesa de sua tese, procura ser fiel ao método de Marx, para explicar e fundamentar o fenômeno superestrutural  (político-ideológico-cultutal) partindo da base material (infra estrutura). Nesse sentido, embora a autora tenha alertado contra o risco de reduzir o conceito ao plano econômico, faz-se necessário desvendar e relação material que justificaria pensar na possibilidade do Serviço Social se colocar ao lado das classes trabalhadoras.
Marilda Iamamoto, respalda-se no fato de que a atividade do  Serviço Social pode servir aos interesses do “capital” e do “trabalho”. Nesse caso, só é possível compreender a atividade por ela destacada como exercício profissional, numa relação econômica ou numa relação material. A mesma destaca que o Assistente Social, “Responde tanto a demandas do capital como do trabalho e só pode fortalecer um ou outro polo pela mediação do seu oposto.” (IDEM, IBIDEM).
Em primeiro lugar, é necessário analisar porque a autora afirma que a atividade do Serviço Social responde as necessidades do capital?  Segundo ela, é porque o Serviço Social, participa dos “...mecanismos de dominação e exploração”, afirmando ainda que “A profissão se consolida, então, como parte integrante do aparato estatal e de empresas privadas, e o profissional, como um assalariado a serviço das mesmas”. (IDEM, IBIDEM).
Sendo assim, Marilda Vilela,  reconhece que “O trabalho do Assistente Social se insere numa relação de compra e venda de mercadorias em que sua força de trabalho é mercantilizada”, e nesse sentido, “O Assistente Social passa a receber um mandato diretamente das classes dominantes para atuar junto à classe trabalhadora.” (IDEM, IBIDEM    )
Não resta dúvida, a partir das colocações da autora, que o Serviço Social, historicamente, no contexto do capitalismo monopolista, visou atender aos interesses da classe dominante, classe essa, que detém o poder econômico.
No Brasil, também é possível situar esse mesmo processo com clareza. A primeira escola de Serviço Social, em 1936, fundada pelo CEAS (Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo), foi fruto de uma iniciativa não só do movimento católico laico, mas principalmente da existência de “uma demanda - real e potencial - a partir do Estado”. (IDEM, p. 180)
 A “iniciativa” do Estado, acontece no auge do governo de Getúlio Vargas, quando o mesmo atua no sentido de centralizar e reorganizar a política do trabalho, de forma que o Estado passou a dirigir tanto a classe patronal quanto a classe trabalhadora. A tarefa maior do governo, era incorporar o trabalho de tal forma que esse reforçaria o projeto de “desenvolvimento e modernização”. Sendo assim, o regime buscava cooptar seletivamente segmentos da classe trabalhadora num processo geral de “inclusão controlada”.
Vale ressaltar aqui, que as massas rurais, as populações urbanas periféricas e as não organizadas foram ignoradas nesse processo.
A partir desses fatos, fica claro que a afirmação da professora Marilda sobre a condição do Assistente Social responder as demandas do capital, é inegável, pois essa peculiaridade faz parte da gênese da profissão.
Todavia, num segundo momento, para compreender de fato as formulações da autora, faz-se necessário analisar porque a mesma afirma que o Serviço Social atende as demandas do trabalho. Subtende-se que na visão da autora, o Assistente social ao atender as necessidades dos trabalhadores, através dos serviços sociais, automaticamente atende as demandas do trabalho. Nesse sentido, o Serviço Social , “Participa tanto dos mecanismos de dominação e exploração como, ao mesmo tempo e pela mesma atividade, da resposta às necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora”atendendo assim, consequentemente,  a demanda do trabalho. Embora a demanda de serviços sociais constitui um item na agenda de reivindicação dos trabalhadores, o simples consumo desses serviços é antes de tudo uma necessidade do próprio capital conforme Marilda Iamamoto afirma:
“Assim, quando o capitalista converte parte do seu capital em força trabalho, o que obtém é uma exploração de todo o seu capital. Obtém vantagens não só do que extrai do trabalhador, mas do que entrega à classe trabalhadora sob a forma de salário. O processo capitalista de produção reproduz o trabalhador divorciado das condições do trabalho; o reproduz como trabalhador assalariado. Esta “vassalagem econômica” se disfarça pela ocorrência da renovação periódica da venda de força de trabalho, seja devido à troca de padrões individuais, seja devido às oscilações de preços da força de trabalho no mercado. Do ponto de vista social, a classe trabalhadora é um atribuído do capital. Mas o próprio processo cria as aparências mistificadoras que evitam que a revolta se expresse e garantem a continuidade do processo produtivo”. (IDEM, p. 51,52) (grifo nosso)
A Categoria “trabalho”, utilizada pela autora, significa na verdade, “classe trabalhadora”, pois, é essa classe que produz o capital. Nesse caso,  Marilda Iamamoto, ao definir o Assistente Social como um auxiliar  do capital,  que atua junto a tais classes, entende que o mesmo pode reforçar a classe trabalhadora, através de uma atuação conscientizadora.
O Assistente Social, de acordo com a autora, historicamente auxiliou na reprodução da força de trabalho, mas também, “pela mesma atividade” respondeu às   necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora.
Fica claro a partir do exposto, que a resposta dada pelo profissional às necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora visavam principalmente atender  aos interesses do capital. Os serviços sociais prestados pelos profissionais, desde o início, atendiam  aos trabalhadores em suas necessidades de acordo com a delimitação do Estado ou das instituições privadas. Essas necessidades, na visão da autora, estariam ligadas à viabilização de políticas que viessem proporcionar aos trabalhadores seus “direitos” relacionados á saúde, habitação, educação, previdência, assistência etc., que indiretamente reproduzem o trabalhador que consequentemente responde e fortalece o trabalho que mantém o capital.
Até aqui caminha-se em um raciocínio lógico. Todavia, a professora Marilda, contrapõe , os “...mecanismos de dominação e exploração” às “necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora”, como se esses dois fatores fossem antagônicos, como se fossem opostos, ela os opõe como um par dialético, dando o mesmo estatuto, o mesmo peso, a mesma medida aos dois fenômenos. Inclusive, ela  denomina tais interesses como “interesses contrapostos que convivem em tensão”.
Há que se repensar sobre a contraposição definida pela autora. Será que os “mecanismos de dominação e exploração” são de fato opostos “às necessidades de sobrevivência das classes trabalhadoras”?
Ora, a sobrevivência dessa classe trabalhadora, significa o processo mediante o qual o trabalhador se reproduz em condições de continuar trabalhando, o que implica na sua alimentação, vestuário, habitação etc., e na produção de descendentes (filhos), novos trabalhadores após a sua desaparição. O trabalhador resolve estas necessidades, mediante a aquisição dos bens em troca de dinheiro que ele consegue pela venda de sua força de trabalho na forma de salário e de serviços sociais disponibilizados pelo sistema de “proteção social” ou seguridade social.
Entretanto, o trabalhador que saí do processo de consumo desses bens, ou seja, “sobrevive”, é o mesmo que entra: é um trabalhador assalariado. Isto quer dizer, que precisa vender sua força de trabalho no dia seguinte para poder continuar sobrevivendo. E é precisamente deste trabalhador assalariado que o capital precisa, como o peixe da água, para existir como capital. Vale lembrar que de acordo com a explicação de Marx, o capital não é senão trabalho assalariado acumulado, transformado em mais valia.
Desta forma, a “sobrevivência das classes trabalhadoras”, é a produção da condição sine-qua-non (aquele do qual não pode prescindir, pois só o trabalho vivo produz mais valia) à existência do capital, de onde, já não se pode caracterizar a sobrevivência como antagônica ao capital, pois a mesma reproduz o bem mais imprescindível a ele: o trabalho.
Nesse ponto, a partir das próprias formulações da autora e do entendimento da gênese da profissão e de seu  processo histórico na sociedade capitalista, é possível afirmar categoricamente, que tais interesses não são contrapostos, embora convivam em tensão, porque estão ligados a um processo de crise do sistema capitalista monopolista que em suas diferentes fases, procura administrar as expressões da “questão social”, de forma a atender as demandas da ordem monopólica. O caráter que assume o consumo do trabalhador, não contém nenhum átomo de antagonismo de classe  ao capital. Isso fica mais evidente, a partir de formulações do próprio Marx:
“Quando o capitalista converte parte de seu capital em força de trabalho, mata dois coelhos com uma só cajadada. Ele lucra não apenas daquilo que recebe do trabalhador, mas também daquilo que lhe dá. O capital alienado no intercâmbio por força de trabalho é transformado em meio de subsistência, cujo consumo serve para reproduzir músculos, nervos, ossos, cérebro dos trabalhadores existentes e para produzir novos trabalhadores. Dentro dos limites do absolutamente necessário o consumo individual da classe trabalhadora, é portanto retransformação dos meios de subsistência, alienados pelo capital por força de trabalho, em força de trabalho de novo explorável pelo capital. Esse consumo é produção e reprodução do meio de produção mais imprescindível ao capitalista, o próprio trabalhador”... “Em nada altera a coisa se o trabalhador realiza seu consumo individual por amor a si mesmo e não ao capitalista. Assim, o consumo do animal de carga, não deixa de ser um momento necessário do processo de produção, porque o animal se satisfaz com o que come. A constante manutenção e reprodução da classe trabalhadora permanece a condição constante para a reprodução do capital”. (Marx,1985;157)
No entanto, Marilda Iamamoto faz questão de deixar claro, que é a compreensão dos antagonismos e das contradições presentes nas lutas de classes, que dá ao profissional, a possibilidade de “...estabelecer uma estratégia profissional e política para fortalecer as metas do capital ou do trabalho”, e de acordo com a autora, tais estratégias não podem ser excluídas do contexto da prática profissional, a partir da compreensão de que “as classes só existem inter-relacionadas”, e o Assistente Social, segundo a mesma, atua nessas relações. Nesse caso,  a professora  Marilda considera que o profissional, mesmo estando a serviço do capital (“não unilateralmente”), ao atender o trabalhador em suas necessidades “legítimas”, através das políticas sociais, que são mecanismos de reprodução da força de trabalho, ou, ao prestar serviços sociais aos trabalhadores,  através da mediação pode fortalecer o capital ou o trabalho.
No entanto, quando ela fala em fortalecer ao trabalho, não podemos esquecer que o trabalho na relação de produção capitalista também pertence ao capital. Aliás, na análise do modo de produção especificamente capitalista que Marx formula, destaca-se a subsunção (submissão) do trabalho ao capital.[1]
Marx denomina subsunção formal do trabalho ao capital,  “a forma geral de qualquer processo de produção”, onde o trabalho é submetido às forças do capital. Contudo, deve-se levar em conta, as diferentes fases do processo de produção capitalista que em sua insipiência davam-se de forma específica. As mudanças ocorreram em um processo, onde o trabalho outrora independente  (Onde a produção visava somente o consumo), passa a funcionar como fator do processo produtivo, onde o capitalista é o dirigente do processo e o trabalhador, o vendedor da força de trabalho. “O capitalista como “capital”, o produtor direto como “trabalho”, estando a sua relação determinada pelo trabalho como simples fator do capital que se autovaloriza”. Nessa relação, o trabalho tem a finalidade de conservar o capital, contudo, o trabalho vivo, ou a mão de obra humana, ainda pode ser observada no resultado do processo, no trabalho objetivado.
Sendo assim, essa relação ainda preserva as formas de trabalho preexistentes e anteriores ao modo de produção especificamente capitalista. O modo de trabalho ainda se dá tal como se tinha desenvolvido antes de ter surgido a relação capitalista. Todavia, apesar desse processo basear-se num modo de trabalho preexistente, legitima-se a possibilidade da produção da mais valia, que é obtida através do prolongamento do tempo de trabalho, sob a forma de mais valia absoluta. “A esta modalidade, como forma única de produzir mais valia, corresponde pois a subsunção formal do trabalho ao capital” (MARX, 19..p.90), sendo que a distinção do processo anterior - processo tradicional - está na escala em que se efetua , onde aumenta significativamente os meios de produção e a quantidade de operários dirigidos pelo patrão.
“Esta ampliação de escala, constitui também a base real sobre que se ergue o modo de produção especificamente capitalista em condições históricas quanto aos restos favoráveis como, por exemplo, as do século XVI”. (IDEM, p. 91)
No entanto, embora o capital nesse processo já desempenhe certas funções subordinadas, ainda não atinge a sua forma dominante, que alcançará posteriormente, quando sua função será a de comprador direto do trabalho, que se apropria diretamente do processo de produção.
Neste estágio, o capitalista, transforma seu dinheiro em capital quando “arranca” do produtor direto trabalho não pago, ou seja, sobretrabalho. Porém, essa ainda não é a forma genuína do modo de produção capitalista, configurando-se como forma secundária ou de transição.
É na subsunção real do trabalho no capital, que se encontra o modo de produção especificamente capitalista. As forças produtivas se apresentam de um modo geral como forças produtivas do capital. Assim, a mais valia relativa, determinará a subsunção real do trabalho ao capital. A subsunção formal, ou seja, a subordinação direta do processo de trabalho ao capital é a base sobre a qual emerge o modo de produção específico de exploração capitalista.
Na subsunção real do trabalho ao capital, efetiva-se um modo de produção específico, tanto na produtividade do trabalho como na relação entre capitalistas e operários. Entra em cena, a tecnologia e a automação (força de trabalho morto) e com isso a destruição de forças produtivas humanas (força de trabalho vivo). Aumenta o número de trabalhadores excedentes e consequentemente o barateamento da mão de obra humana. Os salários são desvalorizados nesse processo devido ao grande número de pessoas que concorrem no mercado, tentando vender a sua força de trabalho - única mercadoria disponível -  para sobreviver.
A exploração não é obtida apenas pelo tempo de trabalho excedente extraído  através da mais valia absoluta (caso da subsunção formal), mas também pela desvalorização drástica da mão de obra humana. Nesse caso, o próprio trabalhador passa a ser uma mercadoria a disposição do capital. De produtor real, constitui-se em simples meio de produção, sendo que o trabalho passa a ter um valor insignificante, abaixo do valor socialmente determinado. Então, uma vez que o capital realmente subordinou todo o trabalho, este só pode existir na órbita do capital.
Todavia, apesar de todas as implicações que envolvem a classe trabalhadora, Marilda Iamamoto, ressalta a mediação como ponto fundamental no processo de “reprodução das relações sociais”, pois a mesma acredita que o profissional pode fortalecer o capital ou o trabalho através da mediação do seu oposto, ou seja, ela valoriza o fato de que o “alvo predominante do exercício profissional é o trabalhador e sua família, elemento mais vital e significativo no processo de produção”. Sendo assim, o Assistente Social, em seu exercício profissional, dentro do contexto “referente as condições e situação de vida da classe trabalhadora” encontra-se automaticamente, “integrado ao processo de condições indispensáveis ao funcionamento da força de trabalho, à extração da mais valia”. Aí, entra o fato do capital depender dessa força de trabalho para se expandir, por isso que Marilda Iamamoto diz que o profissional pode reforçar um ou outro, porque a autora lembra que “os mecanismos de dominação” vão tratar de “centrar esforços na busca de um equilíbrio tenso entre capital e trabalho, na árdua tarefa de conciliar o inconciliável”. E é dentro desse quadro geral que a autora situa o Serviço Social, e aponta perspectivas ao profissional na condição de “intelectual orgânico”, colocar-se no horizonte das’ classes trabalhadoras, sendo que, através da intervenção na realidade objetiva, o Assistente Social poderia fazer uso da linguagem, que a autora define como sendo “...instrumento básico de trabalho”, porque pode ser usada como forma de persuasão e de controle. Marilda Iamamoto valoriza ainda a “ação global de cunho sócio educativo”que pode ser desenvolvida pelo profissional.
Enfim, a autora concentra seus esforços no sentido de provar que apesar das“contradições que constituem o móvel básico da história” , há possibilidade do profissional atuar “no horizonte das classes trabalhadoras”.
Após a análise exposta, há que se repensar sobre o processo das “relações sociais”, definido pela  professora Marilda, pois, no processo de relações de produção no sistema capitalista, o plano econômico subordina, em última instância aos demais. E o trabalho do profissional Assistente Social, atende ao interesse de valorização do capital, que secundariamente responde a demandas do trabalho através do atendimento às “necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora”.
Essa conclusão, pode ser extraída do próprio K. Marx[2], onde fica claro o processo de reprodução das relações econômicas na sociedade burguesa:
“Seria, pois, impraticável e errôneo colocar as categorias econômicas na ordem segundo a qual tiveram historicamente uma ação determinante. A ordem em que se sucedem se acha determinada, ao contrário pelo relacionamento que têm umas com as outras na sociedade burguesa moderna, e que é precisamente o inverso do que parece ser uma relação natural, ou do que corresponde à série do desenvolvimento histórico. Não se trata que as relações econômicas assumem historicamente na sucessão das diferentes formas de sociedade, muito menos sua forma de sucessão “na idéia” (Proudhon) (representação nebulosa do movimento histórico). Trata-se de sua hierarquia no interior da sociedade burguesa.  (p.122)
O alicerce da construção proposto pela professora Marilda,  é o método de Marx, ou seja, ela quer provar que a prática profissional, que a atividade profissional a partir da compreensão “das contradições que constituem o móvel básico da história”, pode viabilizar estratégias em  favor das classes trabalhadoras, mas, como já refletimos, o que ela designa como interesse das classes trabalhadoras, é antes interesse da própria burguesia, e o Assistente Social é, objetivamente, um agente de reprodução da força de trabalho.
Não resta dúvida, a partir da análise exposta, que o Serviço Social, nada mais faz que atender ao capital. Todavia, a professora Marilda identifica mais uma determinação da possibilidade do Assistente Social colocar-se ao lado das classes trabalhadoras. Ela valoriza a opção política individual do Assistente Social na determinação do “significado social da profissão”.
Sendo assim, no próximo capítulo, analisaremos de que forma a “opção política”, poderia levar o Assistente Social a definir-se pela classe trabalhadora, segundo a professora Marilda.

O SIGNIFICADO SOCIAL A PARTIR DA OPÇÃO POLÍTICA

O desafio em compreender a tarefa destinada ao Assistente Social, de atuar em prol das classes trabalhadoras é bastante árduo se forem levados em conta todos os aspectos levantados no capítulo anterior.
Todavia, Marilda Iamamoto, ressalta que “É a existência e a compreensão desse movimento contraditório que, inclusive abre a possibilidade para o Assistente Social colocar-se a serviço de um projeto de classe alternativo àquele para qual é chamado a intervir”., defendendo ainda que “No desempenho de sua função intelectual, o Assistente Social, dependendo de sua opção política, pode configurar-se como mediador dos interesses do capital ou do trabalho”.
Fica claro, que a autora valoriza a opção política individual, na determinação do “significado social da profissão”. Sendo assim, é pertinente refletir sobre os fatores que levariam o profissional a definir-se pela classe trabalhadora.  A opção política, segundo a autora estaria vinculada a “condição” de “intelectual” que ela designa ao Assistente Social na divisão social do trabalho.
“Pode tornar-se intelectual orgânico a serviço da burguesia ou das forças populares emergentes; pode orientar a sua ação reforçando a legitimação da situação vigente ou reforçando um projeto político alternativo, apoiando e assessorando a organização dos trabalhadores, colocando-se a serviço de suas propostas e objetivos”. [3] (p.96)
A autora defende a tese da opção política individual do “intelectual” que pode levá-lo a colocar-se a serviço das propostas e objetivos dos trabalhadores. Nesse caso, Faz-se necessário refletir sobre as reais condições que levariam qualquer indivíduo a definir-se politicamente por uma determinada classe.
Em primeiro lugar, entende-se que a definição política é uma manifestação da luta de classes, quando o indivíduo efetivamente se posiciona na prática a favor das classes oprimidas. Esse indivíduo (no caso, o intelectual), deveria ter uma compreensão clara da tarefa revolucionária a desempenhar e constantemente lutar pela emancipação da classe pela qual “optou”. Seria necessário um engajamento nos movimentos contrários à política que rege a sociedade burguesa em todos os níveis, de forma tal a desenvolver uma atividade prática política direcionada ao interesse dos oprimidos pelo sistema. Tal opção só poderia acontecer, a partir de uma experiência política prática, onde o sujeito deixaria de defender seus interesses individuais, e passaria a defender  interesses coletivos, sendo essa uma escolha autônoma, porém emergente de uma realidade objetiva. A ação desse sujeito estaria ligada fundamentalmente ao seu compromisso social com determinada classe, porém, fundamentada em princípios filosóficos por ele incorporados no decorrer de sua experiência política prática.
No entanto, na tentativa de provar seu argumento, Marilda  Iamamoto,  equipara o profissional, ao “intelectual orgânico”, segundo a perspectiva de Gramsci, sendo que o mesmo atuaria como um “organizador, dirigente e técnico”, podendo favorecer a classe trabalhadora, dependendo de sua opção política.
Para Gramsci, o intelectual orgânico da classe operária é o partido revolucionário. De acordo com Anne Showstack Sassoon, “...Gramsci argumenta que o Príncipe Moderno - O partido revolucionário - é o organismo que permitirá à classe trabalhadora criar uma nova sociedade proporcionando-lhe os meios para desenvolver seus intelectuais orgânicos e uma hegemonia alternativa” Showstack, 1983, 167) quer dizer, a “opção política” implica algo mais do que apenas uma adesão formal às idéias revolucionárias, - e nisto Gramsci não nega Lênin -, implica pertencer ao partido revolucionário. Esta é a verdadeira concepção de “intelectual orgânico”.
Outra autora que deixa claro a função do intelectual orgânico, segundo Gramsci, é Alba Maria Pinho de Carvalho[4], que traz a seguinte explicação: “Gramsci retoma Lênin, procurando extrair das posições leninistas os aspectos políticos e históricos novos”, sendo que para a mesma,
“O pensamento político de Lênin constitui a referência básica nas reflexões gramscianas. Gramsci considera o leninismo uma concepção específica do mundo sem a qual é impossível compreender Marx, na medida em que Lênin continua e atualiza Marx”. (p.42)
A concepção de intelectual orgânico dentro da perspectiva Gramsciana, fica clara a partir da seguinte formulação da autora citada:
“Na concepção Gramsciana, toda ação, todo trabalho político do intelectual orgânico do proletariado se dá na militância partidária. Logo, a dialética espontaneidade/direção se concretiza através da ação do partido político enquanto intelectual coletivo”. (Ibid.59)
A mesma ressalta ainda que:
“No exercício dessa sua militância política, o intelectual orgânico atua nas instituições próprias do proletariado, sobretudo no partido político enquanto espaço fundamental da classe trabalhadora na sociedade. Gramsci estabelece uma vinculação essencial entre o intelectual orgânico do proletariado e o partido político que expressa bem na definição do partido como intelectual coletivo. É enquanto membro do partido de vanguarda que o intelectual orgânico do proletariado se define como um dirigente, atuando no processo de organização de classe”. (Ibid.84)
A realidade objetiva onde atua o profissional Assistente social, como admite a professora Marilda, é adversa e contraditória. Segundo a autora, “...A atuação do Assistente Social é necessariamente polarizada pelos interesses de tais classes, tendendo a ser cooptada por aqueles que têm posição dominante”. 
Subtende-se aí, que o profissional Assistente Social, teria que lutar contra essa “tendência”, para poder optar pela classe dominada. Mas porque ele faria isso? Qualquer resposta que viéssemos a dar a esta pergunta, certamente nos mostraria que o elemento decisivo para a ocorrência desta opção tem muito mais a ver com a luta de classes e com  o grau de embate político do qual o indivíduo participa, do que de sua condição de Assistente Social.
Marilda Iamamoto, considera que o Assistente Social, “...em sua prática de campo, interfere em graus diversos de intensidade, na vida das pessoas com quem trabalha, invadindo de certa forma sua privacidade”. Sendo assim, a autora acrescenta que:
“Explicita-se, aí, a importância do compromisso social do Assistente Social, orientado, no sentido de solidarizar-se com o projeto de vida do trabalhador ou de usar esse acesso à sua vida particular para objetivos que lhe são estranhos”. (p.117)
Sem dúvida que é importante esse “compromisso social”. E do ponto de vista de quem optou pelas “classes trabalhadoras” fundamental. Mas, o problema é anterior. Como é que chegam os Assistentes Sociais (de preferência todos, pois ela fala de uma estratégia profissional e política) a constituir a priori numa categoria de “intelectuais orgãnicos” das classes trabalhadoras. As virtudes da “opção” não são suficientes para justificar a sua viabilidade..
Contudo, Marilda Iamamoto mantêm-se otimista e enfatiza a “relativa autonomia”, que o profissional encontra no exercício da profissão.“Se o Assistente Social, na condição de trabalhador assalariado, deve responder às exigências básicas da entidade que contrata seus serviços, ele dispõe de relativa autonomia no exercício de suas funções institucionais, sendo co-responsável pelo rumo imprimido às suas atividades e pelas formas de conduzi-las”. (p.121)
É até possível concordar com a autora que há uma “relativa autonomia” no exercício da profissão, pois cada profissional conduzirá seu trabalho de uma forma para responder as exigências básicas da organização que contrata seus serviços, mas essa autonomia relativa, não oferece possibidilidades que contrariem categoricamente as normas da mesma. O profissional pode chegar a fazer um arranjo aqui e outro ali para atender o trabalhador da melhor forma possível, mas não estaria atendendo a “interesses contrapostos” , pois na verdade, esses não são contrapostos como já analisamos.
Mas afinal, o objetivo dessa reflexão, é entender como essa “opção política” pode determinar o “significado social” da profissão.  Sendo assim,  é importante lembrar, que no início do capítulo II de sua obra, Marilda Iamamoto, deixa claro, que seu trabalho, “trata-se de um esforço de captar o significado social dessa profissão na sociedade capitalista”, e ainda, “de compreender a profissão historicamente situada”.
Para explicar a profissão “historicamente situada”, a professora Marilda, analisa minuciosamente o movimento de exploração e dominação do sistema capitalista, e afirma que o Serviço Social, “não se situa unilateralmente como um mecanismo de apoio ao capital”, porque também responde as necessidades da classe trabalhadora. Com relação “as necessidades da classe trabalhadora”,  já discutimos no capítulo anterior e refletimos sobre o fato de tais “necessidades” estarem ligadas, na verdade, aos interesses do capital.
Vemos agora, que tampouco é possível determinar o significado social da profissão a partir da opção política individual.
A opção política pessoal favorável às classes oprimidas, com certeza não se dá no âmbito da profissão conforme já averiguamos. Seria necessário um exercício político prático para além do exercício profissional, onde o indivíduo atuasse realmente em oposição antagônica ao curso do sistema capitalista.
Essa atuação, para realmente atender aos interesses da classe trabalhadora, obrigatoriamente deveria estar ligada a um partido político revolucionário e radicalmente contrário ao movimento capitalista. E é evidente que este engajamento não  só não decorre da prática profissional, como não é acessível à maioria dos Assistentes Sociais que se tornam Assistentes Sociais pelas mesmas razões que os outros se tornam dentistas, fonoaudiólogos etc., que dizer, como meio de sobrevivência e não porque queiram militar num partido revolucionário. Além disso, resolver pertencer a um partido revolucionário implica num processo de diferenciação política em que o indivíduo deixa de se comportar como “massa” e passa a agir como direção política, processo pelo qual somente uma ínfima minoria consegue passar na sociedade capitalista.
Dessa forma, condicionar o significado social da profissão à escolha que umas minorias de profissionais consigam fazer, compromete visceralmente a tentativa da autora de justificar que o Serviço Social deve servir às classes trabalhadoras, compromete em síntese todo o seu projeto. Uma escolha genuína pelos oprimidos, só é possível com plena consciência das suas implicações, e isto, certamente não é a intenção da maioria dos profissionais. A menos que se declare que o Serviço Social é uma profissão autodeterminada - o que não é o caso da professora Marilda -, o que nos permitiria assinalar a ela o significado que quiséssemos, sem nos preocuparmos com as determinações sociais objetivas, inclusive de servir às classes trabalhadoras. Não há como pensar que essa peculiaridade do trabalho social possa se contrapor ao capital no capitalismo.
Todavia, a autora não se dá ao trabalho de explicar de que maneira se daria o processo da “opção política” do profissional. Em determinados momentos, a autora privilegia o Serviço Social enquanto instituição, tanto que o II capítulo de sua obra intitula-se “O Serviço Socialno Processo de Reprodução das Relações Sociais”. Sendo assim, é impossível aceitar na íntegra o raciocínio da mesma, tendo em vista o fato, de que segundo ela, a possibilidade do projeto de classe alternativo em favor da classe trabalhadora, dependeria de uma “opção política” pessoal que não é garantida pelo curso da história (muito pelo contrário). Nesse sentido, o “significado social” da profissão, não pode ser entendido a partir das “determinações fundantes” apontadas pela autora, pois nem a condição de “intelectual orgânico”, ou a “opção política”, respondem ao objetivo proposto pela autora (o de explicar o significado social da profissão).
Entretanto, no ano de 1994, 15 anos após ter elaborado o livro que subsidiou a discussão dessa reflexão, Marilda Iamamoto, reafirma a sua posição inicial. É possível fazer essa observação, com base em um texto, extraído da conferência pronunciada na semana do Serviço Social, na Universidade Estadual da Paraíba, em 04 de abril de 1994. A autora, aborda a formação profissional na contemporaneidade com seus “dilemas e perspectivas”  enfatizando a necessidade de restabelecer a formação do Assistente social frente às “novas” exigências da contemporaneidade brasileira nos anos 90. Para tanto, a mesma sugere uma proposta de formação profissional “conciliada com os novos tempos, radicalmente compromissada com os valores democráticos e com a prática de construção de uma nova cidadania na vida social”.
Marilda Iamamoto, destaca a necessidade de se gestar um novo projeto de formação profissional, frente as “novas demandas” para construção de uma “nova programática de trabalho”. Para tanto a mesma ressalta “...a necessidade de direcionar a formação profissional dotada de uma competência teórico-crítica”, que contribua efetivamente na “defesa radical da democracia”.
“ ...portanto, de um perfil profissional compromissado com valores éticos-humanistas: com os valores de liberdade, igualdade e a justiça como pressuposto e condição para a autoconstrução de sujeitos individuais e coletivos criadores da história. No plano da prática sócio-político esse compromisso vem se desdobrando na defesa de uma prática profissional envolvida com a construção de uma nova cidadania coletiva capaz de abranger as dimensões econômicas, políticas e culturais da vida dos produtores de riqueza do conjunto das classes subalternas”. (p.17)
Para que tal prática se efetive, Marilda Iamamoto continua ressaltando a importância da compreensão da perspectiva teórico-metodológica “marxiana” , como diretriz da ação profissional. sendo assim, segundo ela, o agente profissional ou o pesquisador deve sempre posicionar-se ativamente na prática para “... captar os processos sociais, retraduzindo-os em formulações analíticas que os desvendem, mais além das aparências fenomênicas com que se expressam”. Nesse sentido, a mesma destaca que:
“Um outro nódulo problemático tem sido a distância constatada entre o tratamento teórico sistemático das matrizes teórico-metodológicas e a cotidianidade da prática profissional. Salienta-se a necessidade de trabalhar no campo das mediações, que possibilitem transitar de níveis elevados de abstração para a singularidades do fazer profissional, o que vem reclamando desenvolvimento mais amplos. O dilema metodológico é o de detectar as dimensões de universalidade, particularidade e singularidade na análise dos fenômenos presentes no contexto da prática profissional”. (p.22)
A partir de um entendimento claro do método de Marx como forma de elucidar a unidade teórico-prática, Marilda Iamamoto, vê a possibilidade de formulação de contrapropostas profissionais voltadas ao enfrentamento da “questão social”. Essa perspectiva,  fica clara a partir da seguinte exposição da autora:
“É neste sentido, que a formação profissional deve viabilizar condições para que os novos Assistentes Sociais sejam sensíveis e solidários ao processo de criação de uma nova cidadania, como estratégia política de gestão de uma cultura pública democrática, contrapondo-se ao culto do individualismo, à linguagem do mercado, ao “ethos” da pós modernidade. Cidadania voltada para a incorporação política progressiva dos setores excluídos de direitos na prática social, ainda que tidos como necessários e válidos para a produção da riqueza social, como riqueza de outros. Cidadania dos produtores, que impulsione a criação de novas formas de sociabilidade, assentadas na relação Estado e sociedade civil e, não apenas, nas relações entre Estado e indivíduo isolado, ultrapassando os marcos da ideologia libideral”. (p.29)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como já foi mencionado na introdução deste trabalho, o início desta reflexão decorreu de uma angústia pessoal, quando houve a percepção das contradições entre os discursos proferidos pelos docentes em sala de aula  e a realidade objetiva onde atua o profissional Assistente Social.
Posteriormente, houve a percepção de que outros partilhavam dessa angústia, embora o contexto não permitisse essa reflexão, pois a maioria dos docentes, profissionais e estudantes do curso, nem sequer ousam ou permitem-se duvidar ou questionar a vasta literatura já consagrada acerca do Serviço Social.
Sendo assim, embora reconhecendo a fragilidade desta reflexão, entendemos que a dúvida inicial sobre o papel do Assistente Social não responder aos interesses da classe trabalhadora, não partiu de nossa incompreensão ou falta de clareza, pois acreditamos que nossa análise evidenciou que teoricamente a professora Marilda Iamamoto não consegue provar que a profissão pode servir à classe trabalhadora. As formulações analisadas possibilitaram averiguar que a efetivação de “Uma direção alternativa àquela proposta pelos setores dominantes para a intervenção técnica”, não se concretiza através do Serviço Social. E nem a opção política individual é suficiente para embasar o “significado social”, proposto pela professora Marilda.
Esta reflexão nos permitiu ainda, perceber que há uma divergência insolúvel entre a determinação social da profissão e o que é proposto aos alunos enquanto “direção social” da profissão conforme sugere a professora Marilda: “...um projeto político alternativo, apoiando a assessorando a organização dos trabalhadores, colocando-se a serviço de suas propostas e objetivos.
É possível concordar que o método de Marx é insubstituível  no sentido de fazer com que qualquer pessoa (até o profissional), se posicione criticamente e de maneira eficaz em face do capitalismo, no entanto, entendemos que o âmbito exclusivo da profissão (qualquer profissão) não permite ações que se contraponham efetivamente à ordem vigente, pois o âmbito das profissões é o âmbito do capital. O agente profissional pode e deve desenvolver a sua prática  coerentemente e de acordo com as demandas que lhes são postas, podendo inclusive forçar os limites institucionais, porém, isso não significa que dessa forma estará se contrapondo ao capital.
Para que a prática profissional pudesse atuar no sentido da organização e mobilização dos setores da classe trabalhadora, seria necessário que a profissão fosse autodeterminada, e esse não é o caso, pois os profissionais Assistentes Sociais concorrem no mercado de trabalho como qualquer outro profissional que vende sua força de trabalho.



[1] Ver k. Marx. Capítulo VI inédito de O CAPITAL - resultado do processo de produção imediata.
[2] Ver, K Marx. Contribuição à Crítica da Economia Política, São Paulo _ Martins Fontes, 1983.
[3]  “Gramsci classifica os intelectuais em intelectuais orgânicos, de que qualquer classe progressista necessita para organizar uma nova ordem social, e intelectuais tradicionais, comprometidos com uma tradição que remonta a um período histórico mais antigo.”  (Showstack, 1983; 166)
[4] CARVALHO, Alba Maria Pinho de. A questão da transformação e o trabalho social - Uma análise Gramsciana -

Fonte: http://servicosocialnoceara.blogspot.com.br/
sábado, 30 de abril de 2016
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